domingo, 26 de maio de 2013

Entre o porto seguro e o além-mar.

Todo coração de mulher balança entre a certeza e a insegurança. Claro que eu sou séria, claro que você pode confiar em mim, claro. Claro que eu sei o que estou dizendo, pensando e planejando. Claro que é pra valer e que eu não tenho dúvidas. Claro que só digo a verdade. 

(...) 

Meu marido, como gosto de imaginá-lo, tem os ombros largos de proteção e abraço eterno. Tem uma mão grande que serve para tudo: desde atravessar a rua segura até sentir prazer sem medo das horas. Quando ele sorri, doce, imagino meus filhos. Exatamente com aquela ironia pura estampada na cara: um misto de esperteza com falsa esperteza. Quando ele acorda e eu acordo, e nos olhamos, é sempre uma promessa de que a vida não vai acabar porque sempre acordaremos juntos. E para sempre vamos nos amar mesmo com o desgaste das olheiras e remelas. Respiro aliviada e, mesmo distante de Deus, eu sinto que Ele abençoa tudo aquilo. Nunca viveremos o desgaste e para sempre viveremos com a falsa impressão da perfeição.

(...) 

E assim sigo sentindo, exatamente como me senti em cima de uma jangada, no mar de Pernambuco. Eu e um pedaço velho de madeira seguíamos fracos e inseguros para o além-mar e meu coração disparava de tesão, medo, excitação e pânico. Profundo e assustador nas profundidades e superficialmente claro e encantador: o mar e os olhos dele não eram para mim, eram avalanche e não eram seguros. Acalmada a euforia, lembrei que eu não sabia nadar e implorei para voltarmos. 

Feliz e firme do meu porto seguro, não deixo de admirar aquela vida azul. Me perder por ali alguns segundos, cambalear o corpo em ondas de pensamento. Sabendo que depois do horizonte ainda tem mais belezas e já sentindo a dor de nunca descobri-las. Matando a saudade com o barulho de uma conchinha, bem escondida pra ninguém descobrir que ainda sonho em ser sereia. Se possível, às vezes, viajar, dormir quieta ao seu som, gelar a espinha ao seu toque e desequilibrar a alma. Não sou inteira sem meu pouco sonho, azul e água. Amar o mar é tão humano que não pode ser traição. 

Tati B


Nenhum comentário:

Postar um comentário