terça-feira, 10 de junho de 2014

Mas a gente se acostuma, né? A gente precisa se acostumar com as horas que passam, com os dias que se arrastam, com as estações que mudam, com as chuvas que não caem, com o tempo que é sempre tão paradoxal. No fim, a gente acaba se acostumando com as ausências, também. A vida é, na verdade, um eterno acostumar-se.
De uns dias para cá, eu tenho sentido menos. Hoje, de novo, acordei te amando menos e me amando mais. A dor que havia me amortecido está passando aos poucos, estou voltando a me sentir. Às vezes, parecia que haviam me arrancado o coração e, mesmo assim, eu continuei vivendo. Foram dias estranhos, dias parecidos comigo. Tenho a sensação de que não dormi durante todos esses meses. Mas, mesmo assim, eu acordei.
Primeiro, eu senti muito.
Depois, eu senti falta.
Agora, eu sinto mais nada.

(Daniela Lusa - "Das cartas envelhecidas"



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